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Natal – momento de aferição de valores 

dezembro 22, 2020

Após uma longa viagem, Maria e José chegaram Belém, mas não encontraram um local para se instalarem. As poucas hospedarias estavam lotadas e o casal teve que se acomodar em uma estalagem. A pergunta que surge é a seguinte: por que motivo os hóspedes não cederam um local mais adequado para que uma jovem gestante pudesse se acomodar com mais dignidade? O que estariam fazendo de tão importante para não se preocuparem com a presença de uma jovem em tão avançado estado de gestação? 

A resposta surgiu em uma mensagem intitulada Bilhete a Jesus, de autoria do Espírito Humberto de Camposno livro Luz Acima, psicografia de Chico Xavier. O motivoporque estavam fazendo contas! Sim, contas! Eles também estavam ali hospedados por causa do recenseamento. Se o governo romano exigia prestação de contas, os judeus de então se esmeravam, com base nas sagradas escrituras, em sonegar a declaração de seus bens, justamente para pagarem menos impostos aos romanos. Contar rebanhos, produção agrícola e dimensionar propriedades: tal era a preocupação mais urgente naqueles dias.  

Em meio a tantas preocupações de natureza imediata e urgente não havia espaço mental para lembrarem e meditarem nas antigas profecias sobre a vinda do tão esperado e proclamado Messias, que nasceria na cidade de Davi, ou seja, Beléma casa do pão, o pão da vida… 

No entanto, mesmo sabendo da indiferença com que seria recebido pelos homens, Jesus começou assim mesmo, humilde e ignoradoSeu apostolado de amor. 

Os tempos passaram, os cenários mudaram, os homens trocaram de papéis, mas a humanidade continua a mesma e sempre preocupada em fazer contas, tantas contas, que não sobra tempo e nem lembrança da presença de Jesus, muito menos de seus ensinamentos, nem mesmo na época do Natal. 

Na atualidade as preocupações não são tão diferentes daquela época; hoje conta-se com quanto dinheiro se dispõe para as compras de presentes, para a ceia de Natal, para as férias de final de anoetc; e depois conta-se quanto tempo se levará para pagar as dívidas contraídas; contam-se quantas pessoas irão participar da ceia, quanto tempo os assados devem ficar no forno, quantos pratos, copos e talheres, bebidas, etc 

E tão depressa quanto chegou, a euforia e as comemorações se vão deixando um vazio, uma tristeza e uma angústia que ninguém sabe explicar… É que, mais uma vez, a presença de Jesus não foi notada já que estavam todos preocupados demais, contando, contando… Para Ele reservou-se apenas um espaço e um tempo diminutos, distante dos interesses imediatos… 

No entanto, seria interessante se, aproveitando as comemorações junto à família e amigos, fosse feito um inventário das nossas ações: Perdoamos setenta vezes sete vezes cada ofensa recebida? Multiplicamos os talentos que o Senhor nos concedeu para a promoção do bem comum? Dividimos os recursos extras com que fomos beneficiados, amparando os mais necessitados? Adicionamos doses de alegria e entusiasmo no cumprimento de nossas obrigações? Subtraímos os obstáculos inesperados com coragem e bom ânimo? Aplicamos alguns trocados na poupança da caridade?  Aproveitamos alguns minutinhos do dia (ao todo temos 1.440 minutos à nossa disposição!) para leitura e meditação de alguma passagem do Evangelho? Em qual investimento estamos aplicando o tempo o maior de todos os patrimônios? 

Poucos compreendem por que e para que Jesus veio até nós. O motivo sublime é o amor; do alto da nossa pequenez espiritual não conseguimos dimensionar a solicitude de Jesus por nós. E o objetivo, conforme expôs Allan Kardec em ‘O Evangelho segundo o Espiritismo’ (Cap. I, item 4), foi o de “ensinar aos homens que a verdadeira vida não está na terra, mas no Reino dos Céus; ensinar-lhes o caminho que os conduz até lá, os meios de se reconciliarem com Deus e os advertir sobre a marcha das coisas futuras, para o cumprimento dos destinos humanos.” 

Como sempre, homens e nações continuam debruçando seus interesses sobre números e cifras, em busca de uma compensação material para uma carência que é puramente de natureza espiritual, conforme assinalou Humberto de Campos na mensagem supracitada: 

“Sabemos que os homens, fanatizados pela estatística das formas perecíveis, examinam os gráficos, de olhos preocupados, movimentando-se entre tabelas e números, mas erguem corações ao alto, amargurados e tristes, torturados pela sede de infinito… “ 

O nascimento de Jesus durante o período de um recenseamento é portador de um simbolismo que ficará para sempre registrado: o Natal é uma época de aferição de valores. Valores espirituais e não materiais. E ninguém gosta de prestar contas, seja do que for. Mas essa prestação de valores não é feita diante de um tribunal ou de um governo; ela ocorre no íntimo da consciência. E o resultado não é nem um pouco animador; continuamos longe, muito longe das lições que o humilde menino veio nos trazer. No balanço final, estamos a dever, e muito! 

Maroísa Baio 

Maroisa F. Pellegrini Baio
Maroisa F. Pellegrini Baio

Fundadora do Grupo Espírita Allan Kardec, em Limeira, SP. Atualmente colabora como vice-presidente da instituição. Coordenadora do NEPE Eurípedes Barsanulfo, para estudos do Evangelho. Articulista da Revista Internacional de Espiritismo e Autora do livro "Allan Kardec em revista" pela Casa Editora O Clarim.

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