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A profusão da genialidade

outubro 8, 2022

A unidade psíquica do ser é a condição de seu saber, liberdade e responsabilidade

Impressionamo-nos profundamente com a genialidade de uma garotinha oriental de apenas 5 anos de idade, cega de nascença, filha de criação de um casal impossibilitado de ter os próprios filhos, que toca piano maravilhosamente bem como o mais refinado virtuose.  Ela simplesmente toca – à perfeição – qualquer música que se lhe apresente, desde que a ouça apenas uma única vez.

Jeremias, um garoto mexicano, de família pobre e iletrada, desde a mais tenra idade era um gênio com as matemáticas além de exímio campeão de xadrez. E por aí a fora flagramos inumeráveis casos nas mais diversificadas situações.

Fora do contexto da reencarnação, como se explicaria isso?!

Em todas as épocas, aqui e ali, espocaram outros casos de genialidade precoce como revérberos altissonantes da realidade que se constitui a reencarnação.

Segundo Léon Denis (1), “(…) tudo, em a Natureza e no homem, é simples, claro, harmônico… O espírito de sistema é que complica e obscurece tudo. Do exame atento, do estudo constante e aprofun­dado do ser humano, resulta uma coisa: a existência em nós de três elementos: o corpo físico, o corpo fluídico ou perispírito, e, finalmente, a alma ou espírito.

O que se chama o inconsciente, a segunda pessoa, o eu supe­rior, a policonsciência, etc, é simplesmente o Espírito que, em certas condições de desprendimento e de clarividência, sente em si mesmo produzir-se uma como ma­nifestação de potências ocultas, um conjunto de elemen­tos que estavam momentaneamente escondidos sob o véu da carne.

O homem não possui muitas cons­ciências: a unidade psíquica do ser é a condição essen­cial da sua liberdade e da sua responsabilidade. Nele, porém, há muitos estados de consciência. À proporção que o Espírito se desprende da matéria e se emancipa do seu invólucro carnal, suas faculdades, suas percepções se ampliam, despertam as recordações, dilata-se a irradiação da personalidade.”

Tal irradiação pode, sem dúvida alguma, dinamizar e fazer reaparecer potencialidades adormecidas nos refolhos das regiões abissais do inconsciente, no qual estão os arquivos de nossas conquistas intelectuais do passado que, por um motivo ou outro, afloram na região da personalidade do presente.

Deolindo Amorim leciona (2): “(…) Lombroso, o grande mestre da Escola Antropológica, filiou o gênio à “degeneração epiléptica”, tomando como abono de suas proposições diversos casos de homens célebres (até os  mais equilibrados) que tiveram degenerescências.

O Espiritismo encara as exceções geniais pela reencarnação, com apoio na tese inicial da preexistência do Espírito, sem afastar, todavia, as possibilidades de incidentes ou eventualidades de efeitos degenerativos. Genialidade não pressupõe perfeição, mas experiência espiritual.  Vejamos, pois, o que se entende por gênio, segundo a Doutrina Espírita: “o homem de gênio é a encarnação de um Espírito adian­tado, que muito já houvera progredido. O ambiente e a educação desenvolvem as ideias inatas, mas não no-las podem dar. A educação pode fornecer a instrução que falta, mas não o gênio, quando este não existe.”

O gênio não é, portanto, uma “criação especial”, um “ser privilegiado”: é um Espírito, que, já tendo vivido, sofrido e aprendido muito, através de sucessivas reencarnações, demonstra um grau de adiantamento superior ao dos homens comuns e, muitas vezes, sobrepuja as ideias de seu meio ou se antecipa na interpretação de problemas que estão acima da compreensão de sua época.  O homem de gênio pode corromper-se, porque está sujeito às contingências do mundo, mas a degenerescência não é a condição precípua das formações geniais. O gênio é um Espírito em processo de aperfeiçoamento, ainda não de todo isento de experiências difíceis, mesmo que tenha mais facilidade para se desvencilhar dos arrastamentos, em razão de sua longa trajetória espiritual. Daí, o fato de alguns homens célebres pela sua genialidade terem cometido atos de perversão. Não se pode concluir, entretanto, que o gênio seja a representação de uma personalidade degene­rada, em vias de loucura.   A degenerescência é um acidente, não é a razão de ser do gênio.

Conquanto o homem de gênio, apesar de todo o seu desenvolvimento intelectual, não esteja absolutamente imune de eventualidades peculiares à condição humana, tanto assim que sobre ele pode incidir qualquer forma de determinismo — orgânico, social ou espiritual — sua responsabilidade ainda se torna maior, em razão de maior amplitude da compreensão.  O determinismo e o livre-arbítrio, na filosofia espírita, são princípios que se completam, não são termos que se anulam. O uso do livre-arbítrio, principalmente na resistência ao mal e às influências exteriores, é proporcional ao discernimento e ao senso moral. Nem sempre, porém, o homem de gênio, a despeito de sua riqueza intelectual, acumulada através de uma série de existências, tem cabedal de virtude suficiente para lhe fortalecer o espírito em todas as vicissitudes. O progresso intelectual não coincide, em todos os casos, com o pro­gresso moral. As contradições do gênio não invalidam, entretanto, o livre-arbítrio e a responsabilidade: quanto mais progride em moral, mais livre deve ser o homem para se sobrepor às paixões e aos vícios.

Se assim é, o fato de alguns gênios se encontrarem no rol de delinquentes não prova a teoria da degenerescência, mas simplesmente leva a admitir que o gênio também está sujeito a fraquezas humanas. O homem progride necessariamente em conhecimento; mas deve progredir indispensavelmente em moral, como ensina a Doutrina Espírita. Enquanto o gênio corresponde apenas ao conhecimento através dos tempos, sem transformação moral, claro é que não pode, em todos os casos, oferecer resistência às paixões e aos imprevistos do mundo. Se a progressão do livre-arbítrio depende ao mesmo tempo do conhecimento e da moral, e se o gênio se adianta em conhecimento e não se adianta em moral, é lógico deduzir desta proposição que nem sempre o gênio está em condi­ções de se sobrepor ao determinismo de certas injunções, quer na ordem biológica, quer na ordem psíquica ou na ordem social. Neste caso, o gênio não é incondicionalmente livre. Se, portanto, o gênio comete um crime, porque ainda não está absolutamente isento dos revezes terrenos, este fato ainda não permite concluir que a genialidade seja uma forma de degenerescência.

O conceito de gênio, à luz do Espiritismo não pressupõe santidade, mas vivência espi­ritual através da sucessão de existências. A reencarnação não exime, mas antes renova a responsabilidade do gênio.”

A ocorrência da genialidade – em todos os tempos – no seio das mais diversificadas sociedades humanas, nada mais é do que  um dos inumeráveis recursos que a bondade do Pai Celestial coloca à nossa disposição para entendermos que existem incontáveis possibilidades além do que pode alcançar a nossa parca visão do transcendente conjunto espírito-matéria no qual estamos mergulhados.  E é na região dessa transcendência que vamos  – finalmente – encontrar a Vida Abundante de que nos dá notícia o Meigo Pastor de nossas almas:  Jesus!      

Rogério Coelho

Referências:
(1) DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1978, cap. IX, p. 202; e
(2) AMORIM, Deolindo. Espiritismo e criminologia. ed. Rio: CELD, 2006, cap. VI, p. 151-154.

Nota do autor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em < https://www.powerofpositivity.com/reincarnation-signs-been-here-before/>. Acesso em: 08OUT2022.

Rogério Coelho
Rogério Coelho

Rogério Coelho nasceu na cidade de Manhuaçu, Zona da Mata do Estado de Minas Gerais onde reside atualmente. Filho de Custódio de Souza Coelho e Angelina Coelho. Formado em Jornalismo pela Faculdade de Minas da cidade de Muriaé – MG, é funcionário aposentado do Banco do Brasil. Converteu-se ao Espiritismo em outubro de 1978, marcando, desde então, sua presença em vários periódicos espíritas. Já realizou seminários e conferências em várias cidades brasileiras. Participou do Congresso Espírita Mundial em Portugal com a tese: “III Milênio, Finalmente a Fronteira”, e no II Congresso Espírita Espanhol em Madrid, com o trabalho: “Materialistas e Incrédulos, como Abordá-los?” Participou da fundação de várias casas Espíritas na Zona da Mata Mineira.

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