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Onde foi que Deus errou?

abril 1, 2016

paulo-lara-redimensionada“Se o determinismo divino é o do Bem, quem criou o Mal?”
(“O Consolador” – pergunta nº 135)

“Eu formo a luz e crio as trevas; eu faço a paz e crio o mal;
Eu, o Senhor, faço todas essas coisas” (Isaías, 45:7).

Amigos de estudos espíritas, a questão a ser respondida é: se Deus fez o Bem, quem foi que fez o Mal? Ou, por outra: onde foi que a coisa deu errado, para o mundo estar no pé em que está? Ou será que foi Deus quem fez o Mal, como aparenta entender o profeta Isaías, acima citado?

Se buscarmos na Teologia Cristã tradicional (Católico-Protestante) há uma divisão muito clara entre o Bem, que vem de Deus, e o Mal, de Satanás.

Ainda segundo essa Teologia, Deus teria criado seres superiores aos Homens, essencialmente bons, imateriais, porém dotados de livre-arbítrio: os anjos. Eles (anjos) seriam espíritos que servem a Deus, tidos por seus mensageiros e criados santos. Dentre os anjos um, Lúcifer, o mais glorioso deles, teria aspirado a ser como Deus, tendo sido expulso pelo Senhor dos Céus, juntamente com alguns outros anjos que se revoltaram contra Ele: “Pois Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os lançou no inferno”, diz Pedro em 2Pe. 2:4.

Em simplificada síntese teológica, podemos dizer que Lúcifer/Satanás personificaria, portanto, a oposição a Deus, assim como o Mal se oporia ao Bem, enquanto que os demônios seriam os demais anjos revoltados cooptados por Satanás, sob a tutela do Diabo, que os governaria a todos.

No entanto, se Deus criou os Anjos e um deles se tornou Satanás, então Deus criou o Mal, ainda que indiretamente. Talvez até pudéssemos dizer, como o Chaves do programa infantil, que “foi sem querer, querendo”, mas foi!

Agora pense comigo, ou melhor, com o filósofo David Hume (1711/1776): “Se Deus quer evitar o Mal, mas não é capaz disso, então Ele não é Todo-Poderoso; se Ele é capaz, mas não quer evitá-lo, então Ele é mau; agora, se Ele é capaz de evitá-lo e o quer então como se explica o Mal?”

Passemos rapidamente para a teologia espírita, que Hume não teve a oportunidade de conhecer.

Somente para esclarecer, considero que a Teologia Espírita está posta por Allan Kardec no livro primeiro do Livro dos Espíritos, onde se discutem justamente Deus, seus atributos e a criação, invadindo o capítulo primeiro do livro segundo, quando se trata da criação dos espíritos. Bom lembrar, Kardec também tratará da criação no livro ‘A gênese’ e discutirá os anjos e demônios nos capítulos 8 e 9 da primeira parte do livro “O Céu e o Inferno”.

Estou me referindo, portanto, aos temas – Deus, atributos, criação – que são abordados pela Doutrina, não à profissionalização do termo “teologia”, que é mais adequado às religiões estruturadas como tal, o que não é o caso do Espiritismo.

Isto posto vem a interessantíssima pergunta 135 do Livro ‘O Consolador’: se o determinismo Divino é o do Bem (referência ao primeiro parágrafo da resposta de Emmanuel na pergunta anterior, 134), então quem criou o Mal?

Para a doutrina Espírita e para Emmanuel, o Mal definitivamente não é obra de Deus, mas um instante, um momento evolutivo do Ser, do Homem. Diz ele: “(…) o mal, essencialmente considerado, não pode existir para Deus, em virtude de representar um desvio do homem (…)”.

Acompanhem comigo o raciocínio, pautado na Codificação, em questões de “O Livro dos Espíritos” (LE):

– Deus cria todos os seres simples e ignorantes, nenhum tendo sido criados já bons, nem outros maus, sendo os próprios espíritos que se melhoram, passando de uma ordem inferior para outra, superior (questões 114/115 do LE) – absoluta igualdade no ponto de partida;

– Assim, os seres que chegam ao que chamamos de anjos, arcanjos e serafins não formam uma categoria especial de natureza diferente dos outros espíritos, mas são os espíritos puros, aqueles que percorreram todos os graus da escala evolutiva até chegarem nessa posição (questões 128/129 do LE) – absoluta justiça no ponto de chegada;

– De igual forma tampouco há demônios, no sentido dado a essa palavra, de seres voltados eternamente para o mal, pois que se os houvesse, Deus não teria sido justo nem bom em criá-los. Se há demônios, dizem os espíritos, questão 131, eles habitam os mundos inferiores, em que a maldade ainda prevalece – absoluta misericórdia, que nos fará a todos ‘anjos’.

Nesse interregno, entre o ponto de partida e o de chegada, é que nos encontramos!

Portanto, em síntese, Deus somente criou o Bem e estabeleceu uma única Lei, que é a do Amor! Ao desrespeitá-la, ferimos o equilíbrio da Criação e criamos, nós mesmos – pequenos ‘demoninhos’ vaidosos e orgulhosos que ainda somos – o Mal. Para recompor as coisas ao seu estado primitivo, passamos pelo resgate, o que vale dizer, a dor e a expiação apenas são formas de restabelecer a harmonia original perdida com nossa violação à lei do Amor.

Nesse processo evoluímos e nos aproximamos de Deus.

Paulo Lara

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em
<http://noticias.universia.com.br/tempo-livre/noticia/2012/08/22/960448/conheca-criaco-ado-michelangelo-buonarroti.html>.
Acesso em: 01ABR2016.

Paulo Lara
Paulo Lara

Trabalhador da última hora junto ao Grupo Espírita Esperança e Caridade de São José do Rio Preto, Interior do estado de São Paulo.

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